Ana Jansen
Ana Jansen | |
---|---|
Ana Jansen | |
Dados pessoais | |
Nome completo | Ana Joaquina Jansen Pereira |
Nascimento | 1798 São Luís, Capitania do Maranhão |
Morte | 11 de abril de 1869 (71 anos) São Luís, Província do Maranhão, Brasil |
Progenitores | Mãe: Rosa Maria Jansen Müller Pai: Vicente Gomes de Lemos Albuquerque |
Cônjuge | Isidoro Rodrigues Pereira Antônio Xavier |
Filhos(as) | 11 |
Partido | Liberal |
Profissão | empresária e política |
Ana Joaquina Jansen Pereira, também conhecida como Donana, como era chamada por seus escravos (São Luís do Maranhão, 1798 – São Luís do Maranhão, 11 de abril de 1869), foi uma empresária e política brasileira, que se tornou uma personagem controversa na história do Maranhão.[1] Por sua crueldade com seus escravos, criou-se uma lenda sobre seu espírito vagar pelas ruas de São Luís, conduzindo uma carruagem fantasmagórica.
Biografia
Filha de Vicente Gomes de Lemos Albuquerque e Rosa Maria Jansen Müller, que por sua vez era filha de um comerciante holandês falido,[2] foi uma rica proprietária de terras e imóveis, e ativista política e dos movimentos sociais.[3][4]
Ana Jansen foi uma nobre brasileira descendente de holandeses e portugueses, sua família se instalou no Brasil, na cidade de São Luís (Maranhão), capital da Capitania do Maranhão (após a independência do Brasil de Portugal, passou a ser a Província do Maranhão).[4]
Ainda adolescente, teve um filho de pai desconhecido no registro, tornando-se duplamente "desonrada", por não ser mais virgem e por ser mãe solteira. sendo expulsa de casa pelo pai com o filho recém-nascido.[4]
Após um tempo de grandes dificuldades, conhece e torna-se amante por muitos anos do rico coronel Isidoro Rodrigues Pereira, pertencente à família mais rica da época. Com ele, teve alguns filhos, passando de amante a esposa após a morte da primeira mulher do coronel, que aceitou criar seu filho sem pai.[4] Ele a sustentava, lhe deu casa e uma vida digna para criar seu filho, embora fosse alvo de preconceito por, no início, criá-lo sozinha, pois ainda não tinha casado com o coronel, morando só com o filho na casa cedida por ele.[4]
Sua situação melhora aos poucos, depois que se tornou amante do coronel, o homem mais rico da Província do Maranhão. Esse relacionamento mal visto transforma Ana Jansen num alvo fácil para a sociedade moralista da época, personificada acima de tudo por sua maior inimiga: Dona Rosalina Ribeiro, que conservava a moral e os bons costumes com muito rigor. Não admitia uma mulher não ser casada, ter filho de um homem que ninguém sabe quem é e, ainda por cima, ser amante de outro, ainda casado. O comportamento liberal e avançado de Ana era chocante para as mulheres da época, que se casavam cedo e viviam uma vida de submissão ao marido.[4]
Isidoro assumiu oficialmente a relação com Ana Jansen depois da morte de sua esposa, dona Vicência. O casal permaneceu junto por quinze anos até a morte de Isidoro, que deixou seis filhos para Ana criar.[4]
Voltou a ser aceita pela sociedade maranhense aos poucos. Após seu casamento milionário, passou a ser mais respeitada. Os anos passaram e, com a morte de seu marido, transformou-se na viúva mais rica e em uma poderosa senhora de terras, de escravos e líder política, sendo chamada de "Rainha do Maranhão".[4]
Após a morte de Isidoro, assumiu a Fazenda Santo Antônio, propriedade do falecido coronel, e, logo em seguida, conseguiu triplicar a fortuna herdada. Consolidou-se como uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, além de possuir o maior número de escravos da região.[3]
Cobrava pela distribuição de água na cidade, sendo que já havia serviços mais modernos. Em uma tentativa de se implantar um sistema de distribuição para a água, Donana tanto fez que levou o sistema à falência.[3] Ela comandou a distribuição de água por 15 anos, o que lhe gerava bons lucros.
Perseverante e ambiciosa, Ana transformou o dinheiro em poder, assumindo a liderança política da cidade e reativando o esfacelado partido liberal Bem-te-Vi, passando a comandá-lo. Com habilidade política, costurava acordos nos bastidores, chegando a financiar os exércitos do duque de Caxias durante a Balaiada, revolta que ocorreu no Maranhão.[3]
Manteve forte rivalidade política com o Comendador Meireles, líder do Partido Conservador. Seu temperamento forte, explosivo e competitivo, além de sua capacidade de liderança, alcançam a corte de D. Pedro II e ela passou a ser chamada, informalmente, de Rainha do Maranhão. Passou também a ser conhecida pela dureza com que tratava os inimigos e pelo autoritarismo extremo com que tratava seus funcionários e escravos.[4] Era voz corrente entre seus opositores de que não tinha piedade de quem atrapalhasse seus planos, e açoitava os negros que não a obedeciam, mutilando-os.
Embora seja consenso histórico de que Ana Jansen fosse realmente cruel com seus escravos, de acordo com o historiador Rodrigo do Norte, muitos dos relatos seriam exagerados, de modo que ela não os maltrataria mais do que a média dos escravagistas de sua época.[5]
Ana Jansen requereu ao Imperador do Brasil o título nobiliárquico de Baronesa de Santo Antônio, em razão da localidade onde tinha sua principal fazenda, diante de suas posses, influência social e política. No entanto, o título lhe foi negado pelo Imperador Dom Pedro II do Brasil.[1]
Depois da morte de Isidoro, Ana se tornou amante, por muitos anos, do Desembargador Francisco Vieira de Melo. Com ele, teve mais quatro filhos, totalizando 11 filhos: 1 de pai desconhecido, 6 de Isidoro e 4 de Francisco.[1] Por ser uma mulher avançada em seus ideais, ela nunca viu problemas em ser amante e nem ligava para o que as mulheres casadas diziam, pois sempre aparecia grávida em público, mesmo sem estar casada, e todos ficavam totalmente chocados.
Mais tarde, já aos 60 anos, vivendo sozinha, pois se separou de seu amante, casou-se pela segunda vez oficialmente com o comerciante paraense Antônio Xavier, com quem não teve filhos.
Ana Jansen morreu aos 71 anos, de causas naturais.[1]
Homenagens
Atualmente, em São Luís, existem ruas com o seu nome e uma lagoa em sua homenagem: a Lagoa da Jansen, um dos principais pontos de lazer da capital.
Lenda da carruagem
No folclore de São Luís, existe uma lenda sobre a carruagem de Ana Jansen. De acordo com esta lenda, por maltratar seus escravos, Ana Jansen teria sido condenada a vagar perpetuamente pelas ruas da cidade numa carruagem assombrada. O coche maldito partiria do cemitério do Gavião, em noites de quinta para sexta-feira. Um escravo sem cabeça conduziria a carruagem, puxada por cavalos também decapitados[6], ou por uma puxada por uma mula-sem-cabeça em outras versões.[7]
A história é uma fábula universal da figura do Ogro personificado, isto é, de personagens reais da aristocracia de uma localidade que assumiram entre o imaginário folclórico as características de um ser aterrorizante pelos seus terríveis feitos, tal como o Vlad, o Empalador na Romênia, Gilles de Rais na França e Isabel Bathory na Hungria.
Referências
- ↑ a b c d «Biblioteca Digital FGV: Ana Jansen» (PDF)
- ↑ «Ana Joaquina Jansen Pereira». InfoEscola. Consultado em 13 de fevereiro de 2022
- ↑ a b c d «História Hoje: Saiba mais sobre o protagonismo político de Ana Jansen no Maranhão». Radioagência Nacional. 11 de abril de 2016. Consultado em 9 de janeiro de 2019
- ↑ a b c d e f g h i Fernando Costa (31 de Janeiro de 2018). «O verdadeiro medo da poderosa Ana Jansen». Consultado em 30 de novembro de 2018
- ↑ Juliana Vieira (8 de setembro de 2016). «O que está por trás das lendas que povoam o imaginário de São Luis». Consultado em 3 de dezembro de 2018
- ↑ O Imparcial (19 de Julho de 2018). «AS histórias de terror e lendas urbanas de São Luis». Consultado em 30 de novembro de 2018
- ↑ institutocea.org.br (18 de setembro de 2013). «LENDA DA CARRUAGEM DE ANA JANSEN». Consultado em 30 de novembro de 2018