Valerie a týden divů
Valerie a týden divů | |
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Pôster do filme | |
No Brasil | Valerie e a Semana das Maravilhas |
Tchecoslováquia 1970 • cor • 77 min | |
Gênero | terror |
Direção | Jaromil Jireš |
Produção | Jirí Becka |
Roteiro | Ester Krumbachová Jaromil Jireš |
História | Vítězslav Nezval |
Música | Luboš Fišer |
Cinematografia | Jan Čuřík |
Edição | Josef Valušiak |
Companhia(s) produtora(s) | Filmové studio Barrandov |
Distribuição | střední půjčovna filmů |
Idioma | tcheco |
Valerie a týden divů (bra: Valerie e a Semana das Maravilhas) é um filme de terror fantástico surrealista[1][2] tchecoslovaco de 1970 dirigido por Jaromil Jireš, baseado no romance homônimo de Vítězslav Nezval.
Sinopse
Valerie é uma menina órfã de 13 anos que mora com sua avó em uma pequena cidade da Transilvânia. Uma noite, enquanto dorme, tem seus brincos mágicos roubados, a primeira de uma série de aventuras que a menina viverá ao longo dos próximos dias. O filme, considerado parte da Nova Onda Tcheca[2], consiste em uma narrativa onírica em que a protagonista, Valerie, se vê atormentada por vampiros, clérigos, e diversos outros inimigos, e mistura elementos do gênero terror e dos contos de fada tchecos, ou Pohádka.[1][3]. Valerie e sua Semana de Divertimentos também pode ser considerado um coming of age, por tratar de temas como o amadurecimento e a iniciação sexual da protagonista[4].
Enredo
Após roubar os brincos de Valerie, o ladrão, um rapaz chamado Orlík, eventualmente devolve-os para a menina, se tornando próximo dela[1]. Ele conta que realizou o furto a mando de Constable, um vampiro que precisa de elementos mágicos para manter sua juventude e que é, segundo a avó de Valerie, o antigo dono dos brincos.[3]
Uma caravana de artistas chega à cidade simultaneamente com um grupo de religiosos, e acontece um casamento da jovem vizinha de Valerie, Hedvika.
Valerie descobre que sua avó está disposta a traí-la, transformando-se em vampira e juntando-se ao Constable para conseguir juventude eterna. Valerie sofre uma tentativa de estupro do padre recém-chegado à cidade, que também guarda segredos com sua família, mas consegue escapar graças a seus brincos mágicos.[5]
Com a ajuda de Orlík, que assume um papel de namorado de Valerie, mas que, segundo as demais personagens, pode ser irmão da menina[6], a protagonista escapa de uma série de situações opressoras e horripilantes.
Elsa, ao se transformar em vampira, morde Hedvika em sua noite nupcial. Valerie e Hedvika desenvolvem uma relação juntas e a cura de sua mordida após uma noite de carícias e beijos apaixonados.[1] Logo em seguida, o padre incita os cidadãos da cidade a queimar Valerie numa fogueira, por se tratar de uma bruxa que levou-o ao pecado. Valerie novamente escapa com seus brincos mágicos.
Valerie é levada para uma masmorra, onde estão reunidos os vampiros. Ela transforma Constable em uma doninha (um dos apelidos do vampiro) colocando uma pérola do brinco em sua bebida.
Após eliminar o seu maior algoz, Valerie e Orlík vão para o campo, onde a caravana dos artistas está em festa. Valerie vislumbra sua avó, aqueles que podem ser seus pais, e Orlík, junto com os artistas em procissão em torno da sua cama, que está no meio de um bosque, e finalmente adormece.[7]
Temas
Descoberta sexual
Em diversos momentos do filme, vemos margaridas cobertas de sangue. Logo após a primeira aparição desse símbolo, Valerie conta à avó que teve a primeira menstruação. Nesse sentido, as flores representam a inocência infantil, e o sangue que as recobre é representativo do amadurecimento sexual de Valerie, que durante o filme será constantemente assediada por adultos, mas que também descobre seu próprio desejo em Orlík e, sobretudo, em Hedvika.[7][8]
O filme também parece se basear na teoria do desenvolvimento sexual infantil de Sigmund Freud, em que o despertar sexual recobre o mundo em volta da criança de uma nova camada, estranha e nova, ao passo que ela começa a identificar novas formas pelas quais ela é atraída por outras pessoas e identificar nos outros interesses que já não parecem tão ingênuos.[8]
Intrigas familiares
Nunca fica claro durante o filme quem de fato faz parte da família de Valerie. Além de Orlík, frequentemente mencionado como seu irmão[6], também o vampiro Constable é referido algumas vezes como pai da menina.[1] Sua avó, quando ganha a juventude almejada, passa a ser tratada como sua mãe. Como nenhum estatuto de parentesco fica claro, delineia-se uma narrativa na ordem do subjetivo, ao passo que há indicações de ordem sexual com todos esses personagens, mas, pela possibilidade do incesto, estas são reprimidas, referindo-se de certa maneira a intenções edípicas. [3]
Além disso, em uma cena, Constable obriga Valerie a espiar sua avó, com o vestido rasgado, suplicando atenção do padre Gracián enquanto se autoflagela a seus pés. Isso, que do ponto de vista de Valerie se engendra como uma atividade sexual, ressoa com as ideias psicoanalíticas de ouvir o sexo parental, uma fantasia que se relaciona com o enigma e a busca pela própria origem.[9]
Elenco
- Jaroslava Schallerová como Valerie
- Helena Anýzová como Avó/Elsa/Mãe/Ruiva
- Petr Kopriva como Orlík
- Jirí Prýmek como Constable/Richard
- Jan Klusák como Padre Gracián
- Karel Engel como Cocheiro Ondrej
- Alena Stojáková como Hedvika
- Otto Hradecký como Fazendeiro
Produção
O romance homônimo de Vítězslav Nezval sobre o qual o roteiro foi adaptado foi escrito em 1935, mas publicado somente 10 anos depois; a obra não recebeu grande atenção do público.[10] O autor, que havia participado do movimento Poetista dos anos 20, em 1934 participara da fundação do Grupo Surrealista Tcheco[10], adentrando portanto uma nova fase da carreira ao escrever o livro. No prefácio, o autor escreveu que o livro era destinado "aos que se fascinam com os segredos de velhos pátios, abóbadas e casas de verão, e àqueles cujo fluxo mental se detém sobre o misterioso".[10]
O roteiro original foi escrito por Ester Krumbachová, que também atuou como diretora de arte do filme, em conjunto com o diretor do longa-metragem.[11] O filme originalmente seria dirigido por Krumbachová em conjunto com seu marido, Jan Němec. No entanto, em agosto de 1968, Němec foi demitido do Filmové studio Barrandov.[11] O roteiro foi aprovado em abril de 1968 e a direção coube a Jaromil Jireš, apesar de seu filme Žert, de 1969, tenha sido banido pelas autoridades comunistas. [1]
Em conjunto, Krumbachová e Jireš realizaram uma adaptação mais sutil e menos provocativa do romance de Nezval. Jireš apontou posteriormente esse como seu filme favorito, seu único trabalho no campo do surrealismo. [10]
Jaroslava Schallerová foi selecionada dentre 1500 garotas que fizeram audições para o papel.[6] A cidade tcheca de Slavonice foi escolhida como locação principal, por causa de sua ambiência preservada de cidade renascentista; os cidadãos locais interpretaram figurantes. Algumas cenas foram filmadas no monastério Kostelní Vydří próximo à cidade.[12] Robert Nezval, filho do autor do romance, é creditado no filme como "Garoto com tambor".[11]
Trilha sonora
A trilha musical do filme, composta por Luboš Fišer, foi lançada pela primeira vez em dezembro de 2006 pela Finders Keepers Records. Disponível tanto em CD quanto em LP, o encarte mostra imagens de arquivo inéditas, designs de pôsteres internacionais, bem como comentários do fundador do selo, Andy Votel, do professor de cinema Peter Hames, e Trish Keenan da banda Broadcast.[13] Uma trilha alternativa foi composta pelo "The Valerie Project" em 2006.[14]
Lançamento e circulação
O filme foi lançado no dia 16 de Outubro de 1970 na Tchecoslováquia. Foi lançado em vídeo em 1994 na Inglaterra.[3]
Em junho de 2015, o filme foi lançado em DVD e Blu-ray pela Criterion Collection em uma restauração digital em 4K. Os extras dessa edição contemplam três curtas do diretor - Strejda (1959), Stopy (1960) e Sál ztracených kroku (1960) - bem como entrevistas de 2006 com Jaroslava Schallerová e Jan Klusák, e a trilha musical alternativa de folk psicodélico desenvolvida pelo The Valerie Project.[15]
Recepção crítica
Em 11 Março de 1974, Howard Thompson publicou uma crítica elogiosa no New York Times. O crítico considerou que a estética do filme foi influenciada, de forma ousada, por Bergman, Fellini e Buñuel, com personagens que se alteram entre o mal encarnado e vampiros bizarros e esquisitos.[16]
Em 4 de dezembro de 2003, outro crítico estadunidense, Jonathan Rosenbaum, também elogiosamente, dissecou a personalidade e a descoberta sexual da protagonista no Chicago Reader. [17]
No website agregador de críticas, Rotten Tomatoes; o filme tem 80% de avaliação positiva da crítica especializada.[18]
Premiações
Foi indicado na categoria Melhor Filme no Festival Internacional de Chicago em 1971.
Referências
- ↑ a b c d e f Prikryl, Jana. «Valerie and Her Week of Wonders: Grandmother, What Big Fangs You Have!». The Criterion Collection. Consultado em 17 de julho de 2021
- ↑ a b Khan, Imran. «Sexual Horror in 'Valerie and Her Week of Wonders». Pop Matters.com. Imran Khan. Consultado em 15 de julho de 2021
- ↑ a b c d «Czech horror: Jaromil Jireš's Valerie a týden divů (Valerie and Her Week of Wonders, 1970)». KinoEye. Consultado em 17 de julho de 2021
- ↑ «Valerie a týden divů (Valerie and Her Week of Wonders)». Moma. Consultado em 2 de agosto de 2021 line feed character character in
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at position 30 (ajuda) - ↑ Wheeler W. Dixon (2006). Visions of Paradise: Images of Eden in the Cinema. [S.l.]: Rutgers University Press. 81 páginas. ISBN 978-0813537986
- ↑ a b c Judy Berman. «Valerie And Her Week Of Wonders». The Dissolve. Consultado em 16 de julho de 2021
- ↑ a b Torres, Chico. «Valerie e sua semana de deslumbramentos: para se perder em uma fábula». Multiplot. Consultado em 18 de julho de 2021
- ↑ a b Rabbit White, Rachel. «Sex Scenes: 'Valerie and Her Week of Wonders' Delves Into The Politics of Becoming». Vice. Consultado em 16 de julho de 2021
- ↑ Jean Laplanche (1989). New Foundations for Psychoanalysis. [S.l.]: Oxford: Blackwell. pp. 104–139
- ↑ a b c d Hames, Peter. «Valerie And Her Week Of Wonders». Close-up. Consultado em 2 de agosto de 2021
- ↑ a b c Odaha, Tomáš. «Jaromil Jireš: Valérie a týden divů». Odaha (em checo). Consultado em 12 de fevereiro de 2020
- ↑ «Valérie a týden divů». Filmová místa (em checo). Consultado em 12 de fevereiro de 2020
- ↑ «Valerie and Her Week of Wonders - Finders Keepers». Finders Keepers Records
- ↑ «The Valerie Project». MySpace
- ↑ «Valerie and Her Week of Wonders (1970)». The Criterion Collection. Consultado em 16 de julho de 2021
- ↑ Howard Thompson (1974). «Screen: Czech 'Valerie'». The New York Times. Consultado em 18 de julho de 2021
- ↑ Jonathan Rosenbaum (2003). «Valerie and Her Week of Wonders». Chicago Reader. Consultado em 17 de julho de 2021
- ↑ «Valerie and Her Week of Wonders». Rotten Tomatoes (em inglês). Consultado em 3 de abril de 2023
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