Uso da palavra homem
A palavra homem atualmente é utilizada tanto para denominar seres humanos adultos do sexo masculino como para denominar genericamente o indivíduo da espécie humana independentemente de sexo. O dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa[1] tem, entre suas definições de homem,
- mamífero da ordem dos primatas, único representante vivente do gên. Homo, da espécie Homo sapiens, caracterizado por ter cérebro volumoso, posição ereta, mãos preênseis, inteligência dotada da faculdade de abstração e generalização, e capacidade para produzir linguagem articulada;
- a espécie humana; a humanidade;
- o ser humano considerado em seu aspecto morfológico, ou como tipo representativo de determinada região geográfica ou época.
No entanto, esse segundo uso dado ao termo é alvo de controvérsias relacionadas a questões de gênero. Argumenta-se que chamar a espécie humana ou o ser humano de o homem é um hábito que desrespeita as mulheres e reforça o caráter do sexo masculino de sexo dominante da humanidade,[2] preferindo-se utilizar termos neutros, como ser humano, pessoa ou humanidade.
Histórico e debates
A utilização da palavra homem como sinônimo de ser humano tem alicerces na Grécia Antiga, onde os homens de fato eram tratados como o sexo padrão e as mulheres eram vistas como um "desvio" da grandiosidade masculina, confundindo-se o ser humano com a figura masculina do homem,[3] muito embora a língua grega clássica utilizasse termos diferentes para homem (andros) e ser humano (anthropos), e na mitologia judaico-cristã, segundo a qual Deus nomeou a espécie humana Homem (Gênesis 5:2).
Até a Alta Idade Média ainda se distinguiam nos idiomas indo-europeus os vocábulos para a pessoa do sexo masculino e para o ser humano, como no latim homo designava ser humano e vir designava o humano do sexo masculino.[4] A partir de então, numa mescla do patriarcalismo indo-europeu com o cristão, as traduções indoeuropeias de homem passaram a designar o ser humano indistinto de sexo e os humanos do sexo masculino, e os verbetes essencialmente masculinos (como o vir latino e o were inglês) caíram em desuso.[5]
Mais tarde, na época das revoluções francesa e estadunidense, o uso unissex da palavra homem ficou envolvido na sua primeira polêmica histórica: os direitos previstos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e na Declaração da Independência dos Estados Unidos abrangiam "todos" os "homens", mas não estava claro se os "homens" eram seres humanos de todos os sexos ou apenas do masculino,[6] o que na prática implicitava uma negligência aos direitos das mulheres, uma vez que a situação social e legal delas não melhorou depois das referidas declarações de direitos.[6]
Hoje em dia o debate é mais frequente, em especial entre autores de língua inglesa. Argumenta-se que homem não é de forma alguma uma palavra neutra, uma vez que falar-se algo como "Alguns homens são do sexo feminino" ou "Um homem do sexo feminino pode ter dificuldades no parto" soa absurdo, engraçado ou mesmo ofensivo.[7]
Vem sendo recomendado pelas pessoas envolvidas no debate o uso de palavras e expressões como "ser humano", "pessoa" e "humanidade" para se substituir o uso supostamente neutro da palavra "homem".
Ver também
Referências
- ↑ Houaiss, Antonio (2001). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Dicionário eletrônico. [S.l.]: Instituto Antônio Houaiss
- ↑ Moema Viezzer; Tereza Moreira, Carmen Lúcia Rodrigues (maio de 1996). «Relações de gênero na educação ambiental» (DOC). Instituto ECOAR para a Cidadania. Consultado em 2 de maio de 2010
- ↑ Georges Duby e Michelle Perrot (1990). História das mulheres no Ocidente. 1 Afrontamento ed. Porto: Afrontamento. pp. 85–86
- ↑ Rosário, Miguel Barbosa do (2003). «A Etimologia, um estudo que encanta». Revista Philologus (25). Rio de Janeiro. Consultado em 11 de novembro de 2009
- ↑ Harper, Douglas (maio de 2002). «Old English» (em inglês). The Sciolist. Consultado em 10 de novembro de 2009
- ↑ a b Casey Miller (1988). The Handbook of Non-Sexist Writing (em inglês) Harper and Row ed. Nova York: Harper and Row
- ↑ Warren, Virginia. «Guidelines for Non-Sexist Use of Language» (em inglês). Consultado em 2 de maio de 2010[ligação inativa]