Perda auditiva neurossensorial
A perda auditiva neurossensorial ou sensorioneural é um transtorno neurossensorial complexo que tem como característica o prejuízo da discriminação de fala, reconhecimento, detecção e localização do som.[1] Essa perda auditiva ocorre devido a danos nas estruturas da orelha interna ou do nervo vestíbulo coclear (VIII par craniano, também conhecido como nervo auditivo) e representa 90% de todas as perdas auditivas.[2]
O termo “sensorial” é usado para descrever a perda auditiva que se acredita ser o resultado de um mau funcionamento fisiológico no ouvido interno ou nervo auditivo, já o componente "neural" da perda auditiva correlaciona-se com o mau funcionamento nervo auditivo ou próximo a ele e é perceptível quando um paciente tem má discriminação de palavras.[3]
A perda auditiva sensorioneural é considerada multifatorial e é difícil estabelecer sua etiologia pois é resultante de uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais.[1][2]
Pacientes com dificuldade para ouvir, muitas vezes experimentam frustração, depressão e ansiedade relacionadas à perda de audição.[3] É possível que uma perda auditiva adquirida aparente em uma idade mais avançada na verdade comece a se desenvolver em idade mais jovem, portanto identificar a perda auditiva precocemente pode prevenir dificuldades educacionais e de comunicação.[4]
Os efeitos negativos da perda auditiva sensorioneural não se limitam ao dano na estrutura física, dentre eles também estão limitações de atividades, redução da habilidade de compreensão de fala e restrições na participação de eventos sociais, efeitos esses que influenciam no aspecto social e emocional do indivíduo, levando à redução da qualidade de vida. [5]
Causas da perda auditiva sensorioneural
- Genética
- Exposição ao ruído
- Envelhecimento (presbiacusia)
- Drogas ototóxicas
- Homeostase de íons
- Doenças crônicas
- Perda auditiva súbita
As causas mais citadas para esse tipo de perda auditiva são traumas acústicos, envelhecimento, distúrbios vasculares, infecções virais, anormalidades genéticas, autoimunes e metabólicas ou drogas ototóxicas.[2] A perda auditiva adquirida em crianças costuma ser relacionada à meningite ou lesão no ouvido interno, inclusive causadas pelos efeitos de medicações ototóxicas, enquanto em adultos é normalmente atribuída à exposição a ruído, trauma, drogas ototóxicas, presbiacusia ou síndrome de Meniére.[3]
A maior parte das perdas auditivas mais graves tem causa genética, enquanto a maioria das perdas mais leves possuem causas ambientais. Além disso, em países desenvolvidos predominam perdas auditivas de causas genéticas, enquanto em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento predominam as causas adquiridas.[6]
Numerosos estudos revelaram existem vários fatores genéticos responsáveis pela hereditariedade dessa perda, além disso, existem mais de 100 mutações genéticas responsáveis pelo seu aparecimento[1] e mais de 400 síndromes genéticas associadas à perda auditiva.[7] Mutações genéticas são uma das causas mais comuns de perda auditiva sensorioneural precoce.
Além de mutações, a perda auditiva também pode resultar de fatores ambientais que incluem certos medicamentos, infecções específicas antes ou após o nascimento e exposição a ruídos altos por um período prolongado.[8] O desenvolvimento da orelha interna ocorre durante o primeiro trimestre da gravidez e distúrbios nesta fase, sejam devido a mutações genéticas ou distúrbios ambientais, podem resultar em perda auditiva.[9]
Outra causa da perda auditiva é o processo de envelhecimento do sistema auditivo, nomeado presbiacusia. Com o envelhecimento ocorrem alterações sensorioneurais importantes que levam o indivíduo a apresentar dificuldades de comunicação, que como consequência podem levar essas pessoas ao isolamento para evitar situações desconfortáveis.[5]
Se os trabalhadores forem expostos a ruído excessivo, devem utilizar equipamento de proteção pessoal. Mas a investigação científica demonstrou que eles são ineficazes.[10][11]
Classificação da perda auditiva sensorioneural
A perda auditiva neurossensorial varia e é classificada de acordo com diferentes características como quando teve seu início, podendo ocorrer ainda em idades mais jovens, e se é estável ou progressiva. A perda auditiva que se desenvolve após o nascimento é referida como perda auditiva "adquirida" e seu início é definido como pré-lingual quando se manifesta antes da aquisição da linguagem e como pós-lingual quando se sabe ter ocorrido após o desenvolvimento da fala. Também pode ser classificada como unilateral ou bilateral e seu grau pode variar desde a dificuldade para entender a fala suave (leve) até a incapacidade de ouvir ruídos altos (profunda). [3][12][13][14]
Graus de perda auditiva | Criança* | Adulto* | Desempenho |
---|---|---|---|
Audição normal | 0-15 dB | 0-25 dB | Nenhuma ou pequena dificuldade
Capaz de ouvir cochichos |
Leve | 16-30 dB | 26-40 dB | Capaz de ouvir e repetir palavras em um volume normal a um metro de distância |
Moderado | 31-60 dB | 41-60 dB | Capaz de ouvir e repetir palavras em volume elevado a um metro de distância |
Severo | 61-80 dB | 61-80 dB | Capaz de ouvir palavras em voz gritada próximo a melhor orelha |
Profundo | Maior que 81 dB | Maior que 81 dB | Incapaz de ouvir e entender mesmo em voz gritada na melhor orelha |
Tipo de DA | Características |
Condutiva | Limiares de VO ≤ 15 dBNA e limiares de VA > 25 dBNA, com gap aéreo-ósseo ≥ 15 dB |
Sensorioneural | Limiares de VO > 15 dBNA e limiares de VA > 25 dBNA, com gap aéreo-ósseo de até 10 dB |
Mista | Limiares de VO > 15 dBNA e limiares de VA > 25 dBNA, com gap aéreo-ósseo ≥ a 15 dB |
Perda auditiva congênita
Embora a perda auditiva congênita possa ser de natureza condutiva ou relacionada ao transtorno do espectro da neuropatia auditiva, a maioria se enquadra em perda auditiva neurossensorial.[14] É importante notar que todas as perdas auditivas congênitas são pré-linguais, entretanto nem todas as perdas pré-linguais são congênitas.[3]
A perda auditiva congênita é normalmente herdada como resultado de uma mutação genética ou resultado de infecções pré-natais como rubéola toxoplasmose, citomegalovírus ou herpes. [3] Até 80% das perdas congênitas ocorrem devido à causas genéticas, os 20% restantes estão relacionados à causas secundárias ao ambiente ou adquiridas. As perdas relacionadas à genética ou hereditariedade podem ser subdivididas em sindrômicas, que representam 20%, ou não sindrômicas, dependendo da existência ou não de malformações ou condições médicas envolvendo outros sistemas orgânicos associados à perda auditiva.[14]
O tratamento desse perda auditiva dependerá do tipo e da causa da condição[14]
Achados audiológicos
- Limiares auditivos apresentam via aérea alterada (maior que 25 dBNA) e via óssea alterada (maior que 15 dBNA); GAP aéreo/ósseo (diferença entre via aérea e via óssea) menor ou igual a 10 dBNA;[16]
- No exame de timpanometria, a curva é do tipo A;
- Os reflexos acústicos, dependendo do grau da perda auditiva, podem estar presentes demonstrando recrutamento ou ausentes;[17]
- No exame das Emissões Otoacústicas, quando de origem coclear, apresenta ausência;
- No exame do Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) quando a perda é de grau leve ou moderado, de origem coclear, as latências das ondas I, III e V e os interpicos IIII, III-V e I-V encontram-se normais em forte intensidade.[18] Já para perdas auditivas maiores que 60 dBNA, geralmente a onda I está ausente e a onda V pode apresentar atraso na latência.[19]
Ver também
Referências
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