Ano-Bom
Ano-Bom ou Annobón | |
Capital | San Antonio de Palé |
População | 5 008 habitantes |
Censo | 2001 |
Área | 17 km² |
Densidade | 294,59 hab/km² |
Governador | |
ISO 3166-2 | GQ-AN |
Mapa | |
Ano-Bom ou Ano Bom[1] é a única ilha e província da Guiné Equatorial, localizada no hemisfério sul, a 350 km da costa oeste do continente africano e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé (São Tomé e Príncipe). O território mede aproximadamente 6,4 km (comprimento) por 3,2 km (largura), com área superficial total de 17,5 km². A população da ilha é determinada em 5 008 pessoas. As atividades econômicas principais são a pesca e extração de madeira.
A ilha constitui a pequena Província de Annobón, uma das sete províncias da Guiné Equatorial. Sua capital é a cidade de San Antonio de Palé (português moderno, Santo António da Praia), ao norte. A vida é calma e os navios normalmente atracam para comprar água e alimentos frescos (abundantes). No entanto, não há serviço regular de transporte marítimo para o resto do país, e o trânsito de embarcações é muito pequeno. O gentílico local é anobonense.[2]
História
A ilha surgiu sobre o mar há mais de 4,8 milhões de anos, com a atividade de um vulcão (extinto há 100 mil anos). O Pico Quioveo é o seu ponto mais alto com 598 metros acima do nível do mar. O território é caracterizado pela fertilidade do solo e por vales e montanhas íngremes, cobertos por bosques de vegetação exuberante.[3] Possui um lago (Lago A Pot) que se acredita ser a cratera central do antigo vulcão, com pequenas ilhas rochosas.
Segundo alguns autores, a ilha foi descoberta pelo explorador português Diogo Cão, no regresso da primeira expedição de 1482-1484[4]. Outros autores sustentam que já teria sido descoberta antes por uma expedição sob comando de Fernão do Pó, a caminho das Índias, em 1 de janeiro de 1473.[5]
O nome Ano-Bom, que em português é sinónimo de ano-novo[6][7], é atribuído a ambas as sobreditas expedições, por diferentes autores.[5][4]
Era uma ilha desabitada, até ao início da colonização em 1474, com africanos de Angola.[8] Os colonos portugueses só se fixaram definitivamente mais tarde, em 1494, na sequência da proclamação de D. João III como senhor da Guiné e primeiro Senhor do Corisco em 1493.[8]
Na sequência dos tratados de São Ildefonso, em 1777, e de El Pardo em 1778, o domínio desta ilha, foi transferido para a coroa de Espanha, juntamente com o domínio das ilhas de Corisco, de Fernando Pó (atual Bioco) e de direitos de comércio numa parte da costa do Golfo da Guiné limitada pelos rios Níger e Ogoué.[8] Em troca destes territórios e dos direitos de livre-comércio, Portugal ganhou garantias de paz em diversas zonas de influência da América do Sul, como a retirada espanhola da Ilha de Santa Catarina e a demarcação de fronteiras no Sul do Brasil.[8] Enquanto Espanha visava ampliar o seu território em solo africano, Portugal desejava ampliar o seu domínio no Brasil. A colónia formada por Espanha foi posteriormente crismada de «Guiné Espanhola».
A população opôs-se ao novo governo espanhol. Os nativos revoltaram-se contra os novos comandantes e instalou-se uma anarquia. Posteriormente, em comum acordo, a ilha passou a ser administrada por um conselho com cinco nativos, no cargo de governador. Até o fim do século XIX a autoridade espanhola terminou restabelecida e a ilha tornou-se parte da Colónia de Elobey, Annobon, e Corisco. Em 1909, as colónias espanholas de Elobey, Ano Bom, Corisco, Fernando Pó e Guiné Continental foram unidas sob uma administração única, formando a Nova Guiné Espanhola.[8]
Em 1968, a Guiné Espanhola emancipou-se de Espanha, formando o Estado da Guiné Equatorial. Durante o governo de Francisco Macías Nguema a ilha passou a ser chamada Pigalu ou Pagalu (em português, papagaio).
O isolamento geográfico da ilha (muito distante do continente) foi fator determinantes para a preservação de alguns resquícios culturais com Portugal. Na ilha de Ano Bom ainda se usa o chamado Fá d'Ambô, ou seja, o «Falar de Ano Bom», uma língua crioula de base portuguesa, que mantém uma semelhança grande com o dialeto de São Tomé e Príncipe.[8]
Flora e fauna
Geograficamente esta pequena ilha faz parte da costa do Gabão. Antes da colonização era desabitada e tinha uma grande diversidade biológica.[3] Com a chegada do homem, iniciou-se a exploração ambiental. Da vegetação extraiam madeira para a produção dos cayucos (português, canoa) e outros artefactos; passou-se a caçar baleias-corcunda, baleias-bezerros, e outros cetáceos com arpões ao redor da ilha.
Atualmente, o Ojo Blanco de Annobón (Zosterops griseovirescens) e o Monarca del Paraíso de Annobón (Terpsiphone smithii) são espécies endêmicas de aves canoras, assim como o Pombo Malherbi (Columba malherbii). Algumas espécies foram introduzidas pelo homem, como peixes, ratos, cães e gatos. A ilha não possuiu mamíferos predadores naturais. Há tubarões no mar circundante da ilha.
- Aves: 29 espécies
- Morcegos: 2 espécies (1 endêmica)
- Répteis: 5 espécies endêmicas
- 1 de cobra
- 2 de lagartos
- 3 de tartarugas marinhas
- Anfíbios: 3 salamandras
- Peixe de água doce: 18 espécies (1 endêmica)
- Insetos: incluem mosquitos, escorpiões e grandes centopeias.
Existem ainda 208 espécies de plantas vasculares catalogadas (15% são endêmicas), destacando-se o baobá, o ceiba (usado para construção do cayuco), figueiras e as samambaias.[3]
Língua e português medieval
O idioma oficial da ilha é o espanhol, assim como em toda Guiné Equatorial. Ainda assim, o espanhol é a segunda língua da população da ilha, sendo usado na indústria do turismo e ensinado às crianças para esse fim. O idioma usado de facto é o Fá d'Ambô, um idioma crioulo, derivado do português de São Tomé e Princípe.[8] O Fá d'Ambô é um património cultural imaterial lusófono de valor inestimável, uma vez que preserva as características originais da língua-mãe. Devido ao isolamento geográfico e a não influência dos meios de comunicação, tais como jornais, TVs e rádios,[9] estima-se que a população anobonense fale como falavam os primeiros habitantes da ilha, seus antepassados medievais.[10][11]
Questão do lixo nuclear
A revista alemã Der Spiegel, em sua edição de 28 de agosto de 2006, afirmou que o governo da Guiné Equatorial estaria utilizando o território da ilha de Ano-Bom como local para a deposição de lixo nuclear em troca de dinheiro, e que o assunto é terminantemente proibido, passível de prisão e tortura por parte da ditadura que vive o país:
Those who tell the truth end up in jail. / Aqueles que dizem a verdade terminam na cadeia.— Jean-Louis Ecard, morador[12]
He talks about plane crashes that no one is allowed to discuss, and about Annabón Island, where the government is burying nuclear waste in return for a lot of money.[12] / Ele fala de catástrofes aéreas as quais não são permitidas a ninguém discutir, e sobre a ilha de Ano-Bom, aonde o governo está enterrando resíduo nuclear em troca de muito dinheiro.— Der Spiegel, about Jean-Louis
Petróleo
O Golfo da Guiné, como é conhecida a plataforma continental marítima da região costeira, produz grande quantidade de petróleo, que representa pouco mais de 80% da economia da Guiné Equatorial. Estima-se que no mar territorial de São Tomé e Príncipe haja aproximadamente 34 bilhões de barris de petróleos para serem explorados, e a Guiné Equatorial reivindica poder explorar petróleo numa área circundante de Ano-Bom bem maior que todo o território continental e mar territorial do país.
Curiosidades
A ilha, cujo nome oficial atual é Annobón,[13] seguindo o idioma do país, é um paraíso perdido no meio do oceano. Não há água corrente, eletricidade, televisores, refrigeradores, nem hotéis e nem transporte regular.[14] Os alimentos básicos são a yuca e o pescado. Aos visitantes é oferecido arroz importado. Além da pesca, a população mantém-se através da agricultura de subsistência nas zonas de cultivo do litoral. Cada família anobonense possui e cultiva uma plantação, obedecendo a um regime comunitário, em cooperativismo. São produzidos pela agricultura anobonense:[3] Palmas, palmeiras, fruta-pão, bananas, mamão, manga, laranja, tamarindo, tomate, pepino, melão, batatas, cana-de-açúcar, tabaco, e muitas outras plantas de valor para o homem da ilha. É muito tradicional possuir grandes jardins com muitas flores.
A ilha de Ano-Bom é também o local mais próximo do ponto de intersecção entre o meridiano de Greenwich e a linha Equador.
Ver também
- Império português
- Tratado de El Pardo (1778)
- História da Guiné Equatorial
- Crioulo
- Teodoro Obiang Nguema Mbasogo
- Francisco Macías Nguema
Ligações externas
- Gulf of Guinea Conservation Group
- http://www.icex.es/staticFiles/GuineaEcuatorial_6814_.pdf
- https://web.archive.org/web/20061113025351/http://www.equatorialoil.com/pages/TechReview.html
- https://web.archive.org/web/20061207193043/http://www.425dxn.org/dc3mf/annobon.html *https://web.archive.org/web/20061125220232/http://web.jet.es/lynx/annobon/annobon.htm
- http://www.ceiba-guinea-ecuatorial.org/guineeangl/fprov_annobon.htm
- Ghuty Mamae: La esencia de Annobón
Referências
- ↑ Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022
- ↑ CALDEIRA. A. M., Medo e religião popular na ilha de Ano-Bom. Uma aproximação histórica (séculos XVI—XIX). Centro de História de Além-Mar, FSCH/UNL. Actas do Congresso Internacional Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades.
- ↑ a b c d Asociación Africanista Manuel Iradier. «Colaboración 5» (em espanhol). Consultado em 25 de junho de 2009. Arquivado do original em 11 de setembro de 2007
- ↑ a b Bigotte de Carvalho, Maria Irene (2003). Nova Enciclopédia Larousse vol. V. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 1418. 1578 páginas. ISBN 972-42-2816-9. OCLC 959016748
- ↑ a b Portugal, Rádio e Televisão de. «Pó e Ambó - Portugal Sem Fim - Documentários - História - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ Redação (2009). «Ano-bom». Dic. Caldas Aulete. Consultado em 7 de janeiro de 2014. Arquivado do original em 7 de janeiro de 2014
- ↑ Redação (2008). «Vocabulário ortográfico da ABL». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 23 de dezembro de 2012
- ↑ a b c d e f g «Guiné Equatorial. O país que quer falar português». www.dn.pt. Consultado em 15 de janeiro de 2023
- ↑ DE GRANDA, Germán. Retenciones africanas en la fonética del criollo portugués de Annobón. Revista de filología románica, nº 4, 1986, pags. 111-124
- ↑ VIARO, Mário Eduardo. Algumas considerações acerca do português falado quatrocentista e quinhentista. Papia, 2005, v. 15, p. 80-101.
- ↑ DE GRANDA, Germán. Estudios de Lingüística afro-románica. Romance Philology, 42: 4, Maio 1989, pags. 475-478
- ↑ a b Alexander Smoltczyk (28 de agosto de 2006). «Rich in Oil, Poor in Human Rights: Torture and Poverty in Equatorial Guinea». Der Spiegel
- ↑ Governo da Guiné Equatorial. «Página de Guiné Equatorial» (em inglês). Consultado em 25 de junho de 2009
- ↑ Site. «Página Viajeros.com» (em espanhol). Consultado em 25 de junho de 2009
- Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.