Opríchnina
A Opríchnina (опри́чнина) foi uma porção do território russo controlada diretamente pelo tsar Ivã, o terrível.
A palavra deriva do russo antigo oprich (опричь), e significa “aparte”, “a exceção de”. Por definição, Opríchnina designou o período de poder distópico do monarca Ivã IV da Rússia e da sua própria guarda pessoal, os oprichiniks, famosos por sua crueldade contra a população e que dizimaram consideravelmente a cidade de Novgorod.[1]
Atualmente, o termo Opríchnina é utilizado como sinônimo de tirania e de poder absoluto exercido com extremo rigor e crueldade.
História
Em 1554, o príncipe Andréi Kurbski conduziu um exército lituano contra a Rússia, devastando a região de Velíkiye Luki. O tsar Ivã IV suspeitando que os outros aristocratas estavam se preparando para traí-lo, decidiu abandonar Moscou[2] em 3 de dezembro de 1564, levando todas as suas relíquias históricas e religiosas, sem designar um sucessor para chefe do estado, e se acomodou em Aleksándrov, a 120 km de Moscou, com sua segunda esposa María Temryúkovna, os tsarevichs e todos os membros da corte. Em 3 de janeiro de 1565 endereçou uma carta para o arcebispo metropolita de Moscou, Afanasio, descrevendo a traição dos boiardos e anuncia a sua intenção de abdicar.
Uma delegação composta por membros da igreja, o arcebispo metropolita, boiardos e comerciantes se dirigem a Aleksándrov para pedir que ele regresse a Moscou e recupere a coroa. Ivã pede apenas uma condição, que seja aceito dar a ele um poder ilimitado. O clero deve, portanto, renunciar o seu direito de interceder em favor de pessoas caídas em desgraça e os boiardos a garantia de uma justiça equitativa. A delegação aceita as condições e um mês mais tarde o tsar regressa a Moscou.
A criação da Opríchnina
No mesmo mês, um decreto do tsar divide o Grão-Principado de Moscou em dois territórios, a Zémschina que conserva a antiga administração tsarista, e a Opríchnina (a noroeste) onde Ivã tinha um poder absoluto. No mesmo decreto, o tsar cria os opríchniki, uma tropa de elite que seguem cegamente Ivã. Estes homens, que o povo chama de A tropa satânica, usavam vestes pretas e um crânio de cachorro e uma vassoura como insignia, sendo seu lema: “Varrer a Rússia e morder a traição”. A Opríchnina se viu posteriormente debilitada com a morte dos três principais elegidos pelo tsar: Alekséi Basmánov, Afanasi Viázemski e Maliuta Skurátov.
O sistema da Opríchnina durou de 1565 a 1572, sete anos durante os quais Ivã se esforçou para aniquilar seus adversários e romper o antigo regime de governo, que não lhe era conveniente. A repressão faz que alguns boiardos peçam ajuda para a Lituânia intervir. A Opríchnina intercepta as mensagens e intensifica a repressão. O arcebispo metropolita, Felipe, tenta interceder em favor dos prisioneiros e é preso e assassinado. Ivã se encarrega igualmente da sua tia Eufrosinia e filho dela, Vladimir, que são obrigado a se envenenar. Em 1570, Ivã, preocupado com o valor estratégico de Novgorod na guerra contra a Ordem Teutónica e Suécia, descobre que o complô contra ele se estende nessa região. Seus opríchniki saqueiam, incendiam e destroem a cidade, assassinado 30.000 habitantes[3], ainda que alguns historiadores modernos situam ao redor de 2.000 a 3.000 mortos, considerando que depois do período de fome e de epidemias em 1560, a população de Novgorod não excedia 10.000 a 20.000 habitantes.[4]
Em seu regresso a Moscou, a tropa satânica ataca os nobres sem títulos e os massacra. No mesmo ano, Ivã cree que seus fiéis assistentes Alekséi Basmánov e Afanasi Viázemski tentam traí-lo e são executados sumariamente.
Este sistemado foi visto por alguns historiadores como uma ferramenta contra a poderosa nobreza hereditária russa dos boiardos que eram contra a centralização.[5]
A Opríchnina foi tratada de forma similar a igreja do seu tempo, gozando da mesma liberdade de impostos como a igreja, tendo a mesma organização monástica, incluindo Ivã se auto denominando como Abade da Opríchnina.[6] A única diferença entre os dois, é que a última foi criada como um meio exclusivo para cumprir a vontade de Ivã em seu território.[7]
O fim da Opríchnina
Em 1560, em um período conhecido como Pequena Idade do Gelo, em uma combinação de colheitas pobres, pragas, incursões polaca-lituanas, suecas, ataques dos tártaros e da Liga Hanseática, a Rússia foi devastada. O preço das grãos aumentou dez vezes, e o valor das terras outrora férteis havia caído em todo o país, causando nos que viviam na Opríchnina a se mudarem para outras regiões, desta maneira a existência destes sistemas políticos de autoridade (a Opríchnina e a Zémschina), levou a desorganização política e econômica do país.[8]
Ivã começou a duvidar da utilidade da Opríchnina depois das execuções de Basmánov e Viázemski. Vários membros da sua guarda de elite, encarregados de assegurar a sua segurança, foram acusados de traição. A morte de sua terceira esposa, Marfa Sobakina, quinze dias depois da sua boda, o convence que alguns dos seus guardas podiam a ter envenenado. A tropa compreende agora de uns 6.000 homens que saqueiam os territórios da Zémschina, sem que Ivã tivesse autorizado.
Na primavera de 1571, os tártaros da Crimeia invadem a Rússia e chegam a Moscou, e a incendiam parcialmente, sem que os opríchniks movessem um dedo para defender a cidade. Ivã suspeita que eles o traíram em nome do Cã da Crimeia.
Decide então castigá-los severamente. Em julho de 1572, um novo decreto aboliu o sistema de Opríchnina e os opríchniks foram dissolvidos. Os territórios da antiga Opríchnina são fundidos aos da Zémschina e os antigos proprietários recuperam suas terras. Os impostos, como havia esperado Ivã, não aumentaram, e a Rússia perdeu suas ambições na guerra contra a Lituânia, de maneira que a Opríchnina não demonstrou uma melhora considerável, e sim prejudicou a economia e estabilidade da Rússia. A Opríchnina, entretanto, foi bem sucedida em instaurar um regime de obediência submissiva e temerosa em todo o reino.[9]
Consequências
Os historiadores russos creem que o terror da Opríchnina causou a morte de 10 000 pessoas. Os camponeses se viram obrigados a emigrar para regiões mais tranquilas, o comércio foi aniquilado, o país arruinado. A economia russa sofreu por anos.
Mais tarde, Pedro I da Rússia toma como exemplo o governo de Ivã, o Terrível para realizar suas formas de governar.
Legado
Ivã Lazhéchnikov escreveu a tragédia "O opríchnik" (Опричник), a qual Tchaikovsky se baseou para realizar sua ópera homônima. Esta obra por sua vez inspirou a pintura de 1911 de Apollinary Vasnetsov, descrevendo as pessoas correndo de pânico com a chegada dos opríchniks.
Anos depois do reinado de Ivã, o Terrível, o sistema Opríchnina continuou afetando a Rússia. O mesmo Stalin, se baseando muito nos esquemas depurativos da terrível e sangrenta Opríchnina, e o governo do tsar marcou para sempre como um sentido de poder terrível.
Serguei Eisenstein representou os opríchniks em seu filme Ivan, o Terrível como pessoas saudáveis e de aparência limpa na primeira parte. Já na segunda parte do filme os demonstrou com uma aparência menos favorecida.
Ver também
Bibliografia
- Heller, Michel. Histoire de la Russie et de son empire. Plon. Paris. 1997.
Referências
- ↑ Walter Leitsch. "Russo-Polish Confrontation" in Taras Hunczak, ed. "Russian Imperialism". Rutgers University Press. 1974, p.140
- ↑ R.Skrynnikov, Ivan Grosny, M., Science, 1975, pp.93-96
- ↑ S. B. Veselovskii, Isledovaniia po istorii oprichniny (Moscow, 1963) pp. 133ff.
- ↑ Having investigated the report of Maliuta Skurátov and commemoration lists (sinodiki), R. Skrynnikov considers, that the number of victims was 2,000-3,000. (Skrynnikov R. G., Ivan Grosny, M., AST, 2001)
- ↑ R. Skrynnikow untersuchte den Bericht des Kommandeures den Opritschniki Maljuta Skuratow und Gedächtnisfeier-Listen (Sinodiki) und schätzte die Zahl der Opfer auf 2000-3000. (Skrynnikow R. G., "Iwan Grosny", M., AST, 2001)
- ↑ A. Dvorkin, Ivan the Terrible as a Religious Type (Erlangen, 1992), p. 105
- ↑ R. Skrynnikov, Ivan Groznyi (Moscow, 1980), pp. 233-43, pp. 172f., 168ff
- ↑ R.Skrynnikov, Ivan Grosny, M., Science, 1975, p.158
- ↑ Philip Longworth, Russia: The Once and Future Empire (New York, 2005), pp98-105