Iracema
Iracema | |||||||
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Iracema (1884), por José Maria de Medeiros (1849-1925) | |||||||
Autor(es) | José de Alencar | ||||||
Idioma | Língua portuguesa | ||||||
País | Brasil | ||||||
Assunto | indigenismo | ||||||
Gênero | Romance indianista | ||||||
Linha temporal | séc. XVII | ||||||
Localização espacial | Ceará | ||||||
Editora | Typ. de Viana & Filhos | ||||||
Lançamento | 1865 | ||||||
Páginas | 202 (1865) | ||||||
Cronologia | |||||||
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Este artigo é parte da série Trilogia indianista de José de Alencar |
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O Guarani (1857) Iracema (1865) Ubirajara (1874) Ver também: Indianismo |
Iracema (originalmente: Iracema - Lenda do Ceará) é um romance brasileiro publicado em 1865 e escrito por José de Alencar, fazendo parte da trilogia indianista do autor. Os outros dois romances pertencentes à trilogia são O Guarani e Ubirajara.
Etimologia
"Iracema" é um termo tupi que significa "saída de mel, saída de abelhas, enxame" (ira, mel, abelha + semu, saída). É um anagrama da palavra "América". Na obra, o escritor José de Alencar explica que "Iracema" é um termo originário da língua tupi que significa "lábios de mel", mas, segundo o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro, tal etimologia não é correta.[1]
Sinopse
Em Iracema, Alencar criou uma explicação poética para as origens de sua terra natal, daí o subtítulo da obra – "Lenda do Ceará". A "virgem dos lábios de mel" tornou-se símbolo do Ceará, e seu filho, Moacir, nascido de seus amores com o colonizador português Martim, representa o primeiro cearense, fruto da união das duas raças.[2] A história é uma representação do que aconteceu com a América na época de colonização europeia.
Personagens
- Andira: velho guerreiro, irmão de Araquém
- Caubi: índio tabajara, irmão de Iracema. O nome provém do termo tupi ka'aoby, que significa "mato verde" (ka'a, mato + oby, verde).[3]
- Iracema: índia da tribo dos tabajaras, filha de Araquém, velho pajé; era uma espécie de vestal (no sentido de ter a sua virgindade consagrada à divindade) por guardar o segredo de jurema (bebida mágica utilizada nos rituais religiosos). A palavra "Iracema" é um anagrama de "América". Segundo o autor José de Alencar, "Iracema" seria uma palavra com origem na língua tupi que significaria "A virgem dos lábios de mel". Entretanto, o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro contesta tal etimologia, sustentando que "Iracema" provém do nheengatu e significa "saída de abelhas, enxame".
- Martim: guerreiro branco, amigo dos potiguaras, habitantes do litoral, adversários dos tabajaras; os potiguaras lhe deram o nome de Coatiabo.
- Moacir: filho de Iracema e Martim, o primeiro brasileiro miscigenado. O nome provém do termo tupi moasy, que significa "arrependimento", "inveja". Segundo o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro, a etimologia dada por Alencar ao nome não é correta.[4]
- Poti: herói dos potiguaras, amigo (que se considerava irmão) de Martim.
- Irapuã: chefe dos guerreiros Tabajaras; apaixonado por Iracema. O nome "Irapuã" é proveniente do termo tupi eirapu'a, que designa as abelhas meliponídeas,[1] que são as abelhas tropicais sem ferrão, nativas do Brasil.[5]
- Jacaúna: chefe dos guerreiros potiguaras, irmão de Poti.
- Araquém: pajé da tribo tabajara. Pai de Iracema e Caubi.
- Batuirité: o avô de Poti. Chama Martim de "Gavião Branco". Antes de morrer, profetiza a destruição de seu povo pelos brancos.
- Japi: cão de Martim. "Japi" é o nome de um pássaro (Cacicus cela).
Gênero literário
Para José de Alencar, como explicita o subtítulo de seu romance, Iracema é uma "Lenda do Ceará". É também, segundo diferentes críticos e historiadores, um poema em prosa, um romance poemático, um exemplo de prosa poética, um romance histórico-indianista, uma narrativa épico-lírica ou mitopoética. Cada uma dessas definições põe em relevo um aspecto da obra e nenhuma a esgota: a lenda, a narrativa, a poesia, o heroísmo, o lirismo, a história, o mito.
O encontro da natureza (Iracema) e da civilização (Martim) projeta-se na duplicidade da marcação temporal. Há, em Iracema, um tempo poético marcado pelos ritmos da natureza e pela percepção sensorial de sua passagem (as estações, a Lua, o Sol, a brisa), que predomina no corpo da narrativa, e um tempo histórico, cronológico. O tempo histórico situa-se nos primeiros anos do século XVII, quando Portugal ainda estava sob o domínio espanhol (União Ibérica), e, por forças da união das coroas ibéricas, a dinastia castelhana ou filipina reinava em Portugal e em suas colônias ultramarinas.
A ação inicia-se entre 1603 e o começo de 1604, e prolonga-se até 1611. O episódio amoroso entre Martim e Iracema, do encontro à morte da protagonista, dá-se em 1604 e ocupa quase todo o romance, do capítulo II ao XXXII. A valorização da cor local, do típico, do exótico, inscreve-se na intenção nacionalista de embelezar a terra natal por meio de metáforas e comparações que ampliam as imagens de um Nordeste paradisíaco, primitivo. É o Nordeste das praias e das serras (Ibiapaba), dos rios (Parnaíba e Jaguaribe) e da Bica do Ipu ou "bica".
Adaptações
Artes plásticas
A personagem que dá nome ao livro é tema de várias pinturas e esculturas no Brasil.
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Iracema (1884), por José Maria de Medeiros (1849-1925)
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Iracema (1909), por Antônio Parreiras (1850-1937)
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Estátua de Iracema (2004)[7] na Lagoa da Messejana, em Messejana, em Fortaleza, no Ceará. A modelo da estátua é a ex-BBB e hoje pastora evangélica Natália Nara.
Histórias em quadrinhos
Em 1951, pela Editora Brasil-América Limitada, André Le Blanc ilustrou uma adaptação de Iracema.[8] Em 1957, Gedeone Malagola adaptou o romance para a revista Vida Juvenil da editora Vida Doméstica,[9] para a mesma revista também adaptou O Guarani e Ubirajara.[10][11][12]
Literatura de cordel
A história foi transformada em poesia de cordel por Alfredo Pessoa Lima[13] e Stelio Torquato Lima.[14]
Filme
Em 1979, lançou-se o filme brasileiro Iracema, a Virgem dos Lábios de Mel, dirigido pelo cineasta Carlos Coimbra.
Enredo de Escola de Samba
Em 2017, a escola de samba Beija-Flor apresentou o enredo "A Virgem dos lábios de mel - Iracema", baseado no livro.[15]
Traduções
A obra foi traduzida para alguns idiomas:
Idioma | Título(s) | Tradutor(a) | Dados de publicação |
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Inglês | Iraçéma, the honey-lips: a legend of Brazil | Lady Isabel Burton | London: Bickers, 1886. |
Iracema: a novel | Clifford E. Landers | Oxford; New York: Oxford University Press, 2000. | |
Espanhol | Iracema | María Torres Frias | Buenos Aires: Ferrari, 1944. |
Iracema: leyenda de Ceará | Félix E. Etchegoyen | Madrid: Cupsa, 1984. | |
Iracema | José Luis Sánchez | Barcelona: Obelisco, 2000. | |
Latim | Iracema | Remígio Fernandez e Heloísa Coelho de Souza | Belém: Oficial, 1950. |
Esperanto | Iracema: legendo pri Cearao | Benedicto Silva | Rio-de-Ĵanejro: Kultura Koop. de Esperantistoj, 1974. |
Russo | Ирасема: повесть (Irasema: povest') | Inna Tynjanova | Moskva: Izd. Chudozestvennaja Literatura, 1989. |
Referências
- ↑ Tufano, Douglas; Nóbrega, Maria José, José de Alencar – Iracema, Moderna literatura.
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 116.
- ↑ «Fortaleza, Ceará», Viagem de férias, consultado em 31 de janeiro de 2014.
- ↑ Verdes mares, Globo, consultado em 31 de janeiro de 2014[ligação inativa].
- ↑ Clássicos em HQ - Editora Peirópolis
- ↑ «Vida Juvenil nº 170». Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ «Vida Juvenil nº 181». Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ Oscar C. Kern. (1981). Entrevista Gedeone Malagola". Historieta (5) (em português).
- ↑ «Vida Juvenil nº 151». Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ Iracema
- ↑ Iracema nas rimas do cordel
- ↑ «Beija-Flor leva 'Iracema', de José de Alencar, para encerramento do 1º dia de desfiles do Rio». G1. Consultado em 24 de setembro de 2021
- Web
- Parron, Tâmis, ed. (2008), Iracema integral ed. .
- «Iracema», Biblioteca virtual do estudante brasileiro (texto integral), UFSC.
- Bibliografia
- Navarro, E. A (2013), Dicionário de Tupi Antigo: a língua indígena clássica do Brasil, São Paulo: Global.
Ligações externas
- Crítica de Machado de Assis no Wikisource em português.