Alboácem Ali ibne Alfurate
Alboácem Ali ibne Maomé ibne Muça ibne Haçane ibne Alfurate | |
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Nascimento | 855 |
Morte | 18 de junho de 924 Baguedade |
Nacionalidade | Califado Abássida |
Etnia | Árabe |
Ocupação | Oficial |
Filiação | Amade (irmão) |
Religião | Islamismo |
Alboácem Ali ibne Maomé ibne Muça ibne Haçane ibne Alfurate (Abu'l-Hasan Ali ibn Muhammad ibn Musa ibn al-Hasan ibn al-Furat; 855 - 924) foi um oficial sênior do Califado Abássida que serviu três vezes como vizir sob o califa Almoctadir (r.908 932). Inteligente e bem educado, Ali emergiu como um capaz administrador fiscal e representante de seu irmão mais velho Amade. Posteriormente veio a liderar uma das duas grandes facções civis rivais durante o califado de Almoctadir, a Banu Alfurate, a outra sendo o grupo de oficiais em torno do comandante-em-chefe Munis Almuzafar e o vizir Ali ibne Issa Aljarrá.
Abul desempenhou um importante papel na seleção de Almoctadir como califa em 908, vindo a servir como vizir em 908–912, período durante o qual conseguiu reincorporar Pérsis ao califado e restaurar certo grau de autoridade sobre os sájidas do Azerbaijão. Após um segundo mandato em 917–918, ele foi preso por seu sucessor, e foi libertado em 923, tornando-se vizir pela terceira e última vez logo depois. Sua brutalidade perante seus rivais durante seu terceiro mandato, atrelada a fracassos militares contra os carmatas, causaram sua deposição e execução, junto com seu filho Muacim, em 18 de julho de 924.
Vida
Ali começou sua carreira ao lado de seu irmão Amade durante a última parte do califado de Almutâmide (r. 870–892) e a regência de Almuafaque (r. 870–891). Ambos eram protegidos de Ismail ibne Bulbul, que após tornar-se vizir de Almutâmide e Almuafaque em 885, inseriu-os na administração como oficiais fiscais e confiou-lhes o departamento da receita fundiária do Sauade.[1] Após a demissão de ibne Bulbul, Amade foi preso por algum tempo, mas pela época da ascensão de Almutadide (r. 892–902) em 892, foi libertado e novamente recebeu o departamento fiscal do Sauade, e mais adiante os departamentos do imposto fundiário, com Ali como seu vice.[2]
Os irmãos ibne Alfurate e seus apoiantes vieram a formar dois grandes grupos que dominariam a burocracia abássida pelas décadas subsequentes, os Banu Alfurate ou furátidas. Seus principais rivais eram outro grupo de famílias secretariais, os Banu Aljarrá ou jarráidas, chefiado por Maomé ibne Daúde e seu sobrinho Ali ibne Issa Aljarrá, que substituíram os Banu Alfurate como chefes dos departamentos fiscais em 899. Os dois grupos simplesmente representavam diferentes facções em um conflito pelo ofício e poder, mas havia indicativos de diferença "ideológica" também: muitas das famílias Banu Aljarrá originaram-se de famílias nestorianas convertidas e empregaram cristãos em sua burocracia, além de manterem estreitos laços com o exército, enquanto os Banu Alfurate tentaram impor firme controle civil do exército e (mas nem sempre abertamente) favoreceram o xiismo.[3][4] A rivalidade entre os dois grupos foi intensa, mas principalmente contida como suas fortunas mudaram repetidamente, muito embora tortura e confisco forçado das propriedades de um oficial deposto eram comuns sob o antigo sistema estabelecido conhecido como mussadara, que forçou oficiais depostos devolverem o dinheiro que haviam desviado; com efeito, no entanto, praticamente forçou oficiais a desviar enquanto em ofício de modo a serem capazes de fornecer somas durante inquérito da mussadara.[5]
Os dois irmãos continuaram a servir como chefes dos departamentos fiscais no califado de Almoctafi (r. 902–908). Após a morte de seu irmão em 904, Ali tornou-se o auxiliar chefe do vizir Alabas ibne Haçane de Jarjaraia.[2] A morte de Almoctafi em 908 deixou a questão da sucessão aberta, e o vizir Alabas procurou o conselho dos mais importantes burocratas para a escolha de um sucessor. Após o conselho de Ali, os burocratas seniores optaram irmão de 13 anos de Almoctafi, Jafar, que era visto como fraco, flexível e fácil de ser manipulado pelos oficiais seniores. A escolha de Almoctadir (r. 908–932) foi, nas palavras do historiador Hugh N. Kennedy, "um desenvolvimento sinistro" e inaugurou um "dos mais desastrosos de toda a história abássida [...] um quarto de século em que todo o trabalho dos predecessores [de Almoctadir] seria desfeito".[6][7] Após o golpe abortivo dos apoiantes de Abedalá ibne Almutaz em 17 de dezembro, em 18 de dezembro de 908 Ali foi nomeado vizir.[2][8]
Seu primeiro mandato como vizir foi um dos de mais próximo autoridade absoluta, com apenas um pequeno grupo de oficiais palacianos, a mãe do califa e alguns eunucos cortesões, fornecendo algumas verificações a sua autoridade, e isso apenas à distância.[2] Entre os sucessos do período estavam a recuperação de Pérsis,[9] o reconhecimento da suserania abássida pelo emir sájida do Azerbaijão, Iúçufe ibne Abi Alçaje (r. 901-919; 922-928), em troca de um modesto tributo anual de 120 mil dirrãs. Graças a este acordo, Iúçufe dai em diante considerou Ali seu protetor, e mesmo incluiu o nome dele em sua cunhagem.[10][11]
Logo, contudo, Ali começou a abusar de seu poder e roubou grandes somas do tesouro, o que levou-o a demissão e prisão em 21 de julho de 912.[2] Ele foi substituído por Maomé ibne Ubaide Alá Alcacani. Ele foi renomeado para o vizirado em 3 de junho de 917, sucedendo seu antigo rival Ali ibne Issa,[12] mas seu segundo mandato foi abalado pela rebelião de Iúçufe, que havia começado a manter o tributo para Baguedade e havia conquistado algumas das províncias governadas pelo Império Samânida no nordeste do Irã. Ali tentou interceder em nome de Iúçufe, mas sem sucesso: ele foi demitido em novembro de 918, e Iúçufe foi derrotado e levado prisioneiro para Baguedade pelo comandante-em-chefe abássida Munis Almuzafar, em 919.[2][13] O sucessor de Ali foi Hamide ibne Alabas, um homem ambicioso, mas com já mais de 80 anos e totalmente não familiarizado com os assuntos administrativos. Durante seu vizirado, o poder foi exercido por seu vice, que não era ninguém menos que Ali ibne Issa.[14] Ali permaneceu preso no palácio califal durante tudo o período, sendo libertado apenas com a demissão de ibne Alabas em 923, e foi renomeado ao vizirado pela terceira e última vez em 7 de agosto.[15]
O último mandato de Ali, de agosto de 923 até junho de 924 é unanimemente condenado pelos historiadores árabes como um período obscuro, o "ano da destruição". Em vez de tratar seus rivais depostos com clemência, como fez durante os dois mandatos anteriores, Ali, auxiliado por seu filho Muassim, tomou a oportunidade de vingar-se de qualquer pessoas que havia prejudicado-o, e empregou violência liberalmente para extorquir grandes somas de dinheiros daqueles nomeados sob Hamide.[16] Para reforçar ainda mais a sua própria posição, enviou o poderoso Munis Almuzafar ao semi-exílio em Raca. A autoridade do governo foi minada ainda mais pelo ressurgimento súbito e dramático da ameaça carmata, com o saque de Baçorá em 923 e a destruição da caravana dos peregrinos haje retornando em abril/maio daquele ano.[17] Incapaz de parar nem responder efetivamente a estes ataques, a popularidade de Ali entre a população despencou, levando a revoltas em Baguedade. Ao mesmo tempo, sua brutalidade causou ressentimento entre os burocratas e as dificuldades financeiras do califado significou que ele não podia pagar os salários do exército regularmente. Como resultado, a pressão crescente foi colocada sobre o califa pelos membros da corte e o exército agiu. Finalmente, no começo de junho de 924 Almoctadir prendeu Ali e seu filho.[2][18] Almoctadir manteve muita simpatia pelo homem que havia sido seu mentor, e cuja inteligência e habilidade ele respeitava, mas quando o antigo vizir e seu filho foram levados diante do califa para julgamento, Ali perdeu qualquer benevolência devido sua atitude insolente. Ali e Musassim foram executados em 18 de julho de 924.[19][20] Da poderosa Banu Alfurate, o sobrinho de Ali, Alfadle, conseguiu readquirir alto ofício após 927 e mesmo serviu brevemente como vizir em 932 e 937.[16][21]
Caráter e avaliação
Ali ibne Alfurate foi uma personalidade complexo. Bem-educado e altamente culto, foi muito inteligente e notoriamente eloquente. Distinguiu-se como um administrador fiscal extremamente capaz, "comprometido com a reforma do abuso e a elevação das receitas do estado sem opressão" (Hugh Kennedy) e capaz para "solucionar rapidamente o que pareciam ser os problemas mais complicados" (Dominique Sourdel). Como cortesão, exerceu poder no estilo de um "grande senhor feudal" (Kennedy), tendo afinidade com o luxo e gastando grandes extravagâncias com seus apoiantes para engrandecer sua própria imagem. Ao mesmo tempo, sua lealdade primária não foi com o Estado ou o califa, mas com a melhoria e enriquecimento dele próprio e seus apoiantes, que formaram quase um "secreto partido político-religioso" (Sourdel) de xiismo duodecimano dentro do coração do Califado Sunita. Além disso, apesar de combater a corrupção dos outros, não estava acima de quebrar a lei para seu próprio benefício, e era "até certo ponto implacável e sem escrúpulos quando se tratava de promover seus próprios interesses" (Kennedy).[21][22]
Referências
- ↑ Kennedy 2004, p. 174–175.
- ↑ a b c d e f g Sourdel 1986, p. 767.
- ↑ Kennedy 2004, p. 175, 180.
- ↑ Bonner 2010, p. 333–334, 350.
- ↑ Bonner 2010, p. 334.
- ↑ Kennedy 2004, p. 185–186.
- ↑ Bonner 2010, p. 349.
- ↑ van Berkel 2013, p. ix.
- ↑ Bosworth 1975, p. 123.
- ↑ Kennedy 2004, p. 190.
- ↑ Madelung 1975, p. 230.
- ↑ van Berkel 2013, p. x.
- ↑ Madelung 1975, p. 231.
- ↑ van Berkel 2013, p. 74–75.
- ↑ van Berkel 2013, p. xi.
- ↑ a b van Berkel 2013, p. 72.
- ↑ Kennedy 2004, p. 191.
- ↑ Kennedy 2004, p. 191–192.
- ↑ Sourdel 1986, p. 767–768.
- ↑ van Berkel 2013, p. xi, 72.
- ↑ a b Sourdel 1986, p. 768.
- ↑ Kennedy 2004, p. 186.
Bibliografia
- Bonner, Michael (2010). «The waning of empire, 861–945». In: Robinson, Charles F. The New Cambridge History of Islam, Volume I: The Formation of the Islamic World, Sixth to Eleventh Centuries. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 305–359. ISBN 978-0-521-83823-8
- Bosworth, C. E. (1975). «The Ṭāhirids and Ṣaffārids». In: Frye, R.N. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 90–135. ISBN 0-521-20093-8
- Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed. Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4
- Madelung, W. (1975). «The Minor Dynasties of Northern Iran». In: Frye, R.N. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambridge: Cambridge University Press
- Sourdel, D. (1986). «Ibn al-Furāt». The Encyclopedia of Islam New Edition, Volume III: H–Iram. Leida e Nova Iorque: BRILL. pp. 767–768. ISBN 90-04-08114-3
- van Berkel, Maaike; El Cheikh, Nadia Maria; Kennedy, Hugh; Osti, Letizia (2013). Crisis and Continuity at the Abbasid Court: Formal and Informal Politics in the Caliphate of al-Muqtadir (295-320/908-32). Leida: BRILL. ISBN 978-90-04-25271-4