Xintoísmo estatal
O xintoísmo estatal (国家神道 Kokka Shintō?) foi a denominação da ideologia promovida pelo governo do Japão, desde inícios da era Meiji até à sua derrota na Segunda Guerra Mundial e que se baseava inicialmente na prática sustentada do xintoísmo, com a fusão dos ritos realizados na Corte Imperial e os ritos realizados nos santuários, e que se transformou na religião de Estado do Império do Japão.[1] Esta ideologia teve um carácter nacionalista e culturalmente conservador, com a reconstrução dos originais e puros costumes nacionais antes da chegada dos sistemas de crenças de fé estrangeiros (budismo, confucionismo, taoísmo, cristianismo) ao Japão. No entanto, há discrepâncias sobre se o xintoísmo estatal é propriamente uma religião independente já que tal não está claramente comprovado tanto historicamente como no âmbito religioso-científico; mais é uma ordem moral, ética e de respeito com toques de misticismo. Segundo o historiador Kuroda Toshio, a concepção do xintoísmo como uma religião nativa só se desenvolveu com a aparição do Kokugaku por Motoori Norinaga.[2] Esta opinião, não obstante, não está considerada sob algumas circunstâncias sobre a delimitação do xintoísmo como religião ou como um costume secular.[3]
O termo "xintoísmo estatal" não foi originalmente um termo japonês, e começou a mencionar-se em finais do século XIX fora do Japão por nipólogos estrangeiros. A sua tradução para a língua japonesa não se fez oficial até ter terminado a Segunda Guerra Mundial, para descrever num sentido amplo estes ideais, ritos e instituições xintoístas criados pelo governo para promover a divindade do Imperador do Japão e a identidade nacional japonesa (kokutai)[4] e distingui-la do xintoísmo praticado desde a pós-guerra até hoje em dia, convertida numa das tantas religiões que existem no Japão e que só se limita aos santuários. Com a promulgação da Directiva Xintoísta (神道指令 Shintō Shirei?) de 15 de Dezembro de 1945, o xintoísmo estatal foi definido de maneira clara nesse documento como "o ramo do xintoísmo que se diferencia por lei do xintoísmo de seita".[1] Os éditos e disposições administrativas que inspiraram a criação do xintoísmo estatal como tal foram:[1]
- A separação em 1882 dos papéis de missionário do Estado e dos sacerdotes xintoístas;
- A criação da Oficina Xintoísta (神社局 Jinja kyoku?) em 1900 que desagregava a administração dos santuários de outras instituições religiosas.
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Como consequência destas duas iniciativas administrativas, o santuário xintoísta (神社神道 Jinja Shintō?) foi considerado como sinónimo do xintoísmo estatal ou do xintoísmo nacional, e a supervisão e administração dos santuários e ritos xintoístas eram um assunto nacional de grande importância. Entre as medidas administrativas mais importantes contam-se a fundação de um sistema de santuários imperiais e nacionais (官国幣社 Kankoku Heisha?) a partir dos fundos estatais, a apresentação de oferendas (神饌 shinsen?) a santuários municipais, prefeiturais e de outros tipos, e a sistematização de ritos e sacerdotes dos santuários xintoístas.[1] Estes sistemas mantiveram-se através da promulgação de leis e medidas administrativas de vários tipos, mas tecnicamente não havia um marco legal sistemático oficial que os definisse totalmente. Os sistemas formaram-se através da promulgação de uma série de leis individuais e estratégias administrativas. Em consequência, o xintoísmo estatal foi em termos de legalidade extremamente instável. De facto, o governo procurou de maneira sustentada a unificação dos diferentes sistemas de santuários e conformar um marco legal universal, mas foi em vão. Como parte dos seus esforços para criar um sistema unificado, o governo também convocou numerosos comités de investigação. O mais importante foi o Comité de Investigação do Sistema de Santuários (神社制度調査会 Jinja Seido Chōsakai?) estabelecido em 1929, que procurava conduzir uma revisão drástica das disposições administrativas aos santuários. Entre as propostas, apoiava-se na administração de santuários como o santuário Yasukuni por um lado e a criação do Instituto de Divindades (神祇院 Jingiin?) por outro.[1]
Em 1868, com o estabelecimento do governo Meiji, foi estabelecida a liberdade de culto com certas condições e formou-se um organismo governamental que concentrou todos os assuntos religiosos e a sua administração com o fim de fazer cumprir a ordem governamental de separar o budismo do xintoísmo; posteriormente em 1871, todos os santuários xintoístas no Japão converteram-se em propriedade do governo central (subordinados ao Ministério do Interior ou ao Ministério da Educação). Após a rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial, o Comandante Supremo das Forças Aliadas dissolveu este complexo sistema, pondo fim ao xintoísmo estatal.[1]
Bibliografia
- Agency for Cultural Affairs (1972). Japanese Religion, A Survey. [S.l.]: Kodansha International. ISBN 0870114670
- John Breen (2000). Shinto in History. [S.l.]: RoutledgeCurzon. ISBN 0700711724
- John Whitney Hall (1971). Japan From Prehistory to Modern Times. [S.l.]: Charles Tuttle & Company
- Helen Hardacre (1991). Shinto and the State, 1868-1988. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 0691020523
- Daniel Clarence Holton (1984). The Political Philosophy of Modern Shinto: A Study of the State Religion of Japan. [S.l.]: AMS Press. ISBN 0404159370
- Gregory J Kasza (1984). The State and the Mass Media in Japan, 1918-1945. [S.l.]: University of California Press. ISBN 0520082737
- Ian Neary (2005). The State and Politics in Japan. [S.l.]: Polity. ISBN 0745621341
Referências
- ↑ a b c d e f Sakamoto Koremaru. State Shinto no Encyclopedia of Shinto de Kokugakuin. 28 de Fevereiro de 2007.
- ↑ Kuroda Toshio: “Shinto into the History of Japanese religion”: Religion of Japan in Practice de George J. Tanabe (Hrsg.), Princeton University Press 1999, ISBN 0-691-05788-5, pág. 451-467
- ↑ Ian Reader: “Dichotomies, Contested of term and Contemporary Issues into the Study of religion”: Electronics Journal of Contemporary Japanese Studies, Discussion Paper 3. 2004
- ↑ Kodansha, Encyclopedia of Japan