Psicose
Psicose | |
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A Noite Estrelada de Van Gogh revela alterações na luz e cor semelhantes às manifestações de psicose[1][2][3] | |
Especialidade | Psiquiatria, psicologia |
Sintomas | Convicção em falsas crenças, ver ou ouvir coisas que outras pessoas não veem ou ouvem, discurso incoerente[4] |
Complicações | Autolesão, suicídio[5] |
Causas | Perturbações mentais (esquizofrenia, perturbação bipolar), privação de sono, algumas condições de saúde, alguns medicamentos, drogas (incluindo álcool e cannabis)[4] |
Tratamento | Antipsicóticos, psicoterapia, apoio social[5] |
Prognóstico | Depende da causa[5] |
Frequência | 3% da população em algum momento da vida (EUA)[4] |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | F20 a F29 |
CID-9 | 290 a 299 |
OMIM | 603342 608923 603175 192430 |
MedlinePlus | 001553 |
Leia o aviso médico |
Psicose é uma perturbação da mente que causa dificuldades em determinar o que é ou não real.[4] Os sintomas mais comuns são delírios (certeza de que sua ideia é verdadeira, apesar das evidências do contrário) e alucinações (ver, ouvir ou sentir sem um estímulo perceptível por outros).[4] Entre outros possíveis sintomas estão discurso incoerente, comportamento inapropriado para a situação e perder capacidade emocional.[4] Podem também ocorrer perturbações do sono, reclusão social, falta de motivação e dificuldades em desempenhar tarefas do quotidiano.[4]
As psicoses têm várias causas diferentes.[4] Entre as causas mais comuns estão perturbações mentais como a esquizofrenia ou perturbação bipolar, privação do sono, algumas condições médicas, alguns medicamentos e drogas como o álcool ou a cannabis.[4] Um dos tipos, denominado psicose pós-parto, pode ocorrer após o parto.[6] Acredita-se que na causa esteja implicado o neurotransmissor dopamina.[7] A psicose aguda é considerada primária quando resulta de uma condição psiquiátrica e secundária quando é causada por uma condição médica.[8] O diagnóstico de uma perturbação mental requer que sejam excluídas outras potenciais causas.[9] Podem ser realizados exames ao sistema nervoso central para avaliar como potenciais causas doenças, toxinas ou outros problemas de saúde.[10]
O tratamento pode consistir em antipsicóticos, psicoterapia e apoio social.[4][5] Quanto mais cedo for iniciado o tratamento melhor aparenta ser o prognóstico.[4] A medicação aparenta ter um efeito moderado.[11][12] O prognóstico depende da causa subjacente.[5] Nos Estados Unidos, cerca de 3% da população desenvolve psicose em algum momento da vida.[4] A condição tem sido descrita desde pelo menos o séc. IV a.C. por Hipócrates e possivelmente teria sido descrita no Egito em 1500 a.C. no Papiro Ebers.[13][14]
Características
Sobre as principais características clínicas das psicoses, pode-se afirmar:
- são psicologicamente incompreensíveis (segundo Jaspers);
- apresentam vivências bizarras, como delírios, alucinações, alterações da consciência do eu;
- não existem alterações primárias na esfera cognitiva. Memória e nível de consciência não estão prejudicados, se isto acontece é devido a outras alterações clínicas (delirium), bem como devido a substâncias psicoativas.
Categorias
Segundo a Classificação Internacional de Doenças, 10a edição, existem seis tipos de transtornos psicóticos[15]:
- (F20) Esquizofrenia
- (F21) Transtorno esquizotípico: personalidade esquizotípica para o DSM-5
- (F22) Transtorno delirante persistente: antigamente chamado de paranoia ou de parafrenia
- (F23) Transtorno psicótico agudo e transitório: também conhecido como episódio psicótico breve
- (F24) Transtorno delirante induzido: também conhecido como Folie à deux
- (F25) Transtorno esquizoafetivo: uma esquizofrenia com períodos de transtorno afetivo, seja transtorno bipolar ou depressão maior.
Interpretação psicanalítica
Na psicanálise, a psicose corresponde a um funcionamento psíquico que obedece a um princípio de rejeição primordial, que corresponde ao termo alemão Verwerfung. A rejeição primordial consiste na expulsão de idéias ou pensamentos próprios, os quais passam a ser tratados como estranhos ou não acontecidos. Como um efeito dessa rejeição, pode ocorrer a cisão do eu em duas partes, uma que é reconhecida e outra que não é reconhecida como própria. Essa cisão caracteriza a Esquizofrenia. Quando ocorre que os pensamentos não reconhecidos como próprios são localizados em outras pessoas, através da projeção, caracteriza-se a psicose como paranoia.[16]
Apesar de Freud ter introduzido essas noções de cisão e projeção, considera-se que a psicose gerou dificuldades teóricas para Freud, mas não para Lacan. Se o primeiro demonstrou-se hesitante em enquadrá-la teoricamente, concentrando-se na neurose, Lacan,[17] tomando-a constantemente em suas conferências, associou a Verwerfung à foraclusão (ou forclusão) do nome-do-pai.
Sociedade e cultura
Filosofia
Michel Foucault, em seu texto A história da Loucura, aponta que a loucura (posteriormente chamada de psicose) poderia ser entendida como uma aberração da conduta em relação aos padrões em uma certa sociedade. Segundo Foucault, duas dimensões dessa loucura existiriam: a trágica e a crítica. Na trágica, o louco tem uma genialidade. Na crítica, o louco não tem a razão, e deve passar por tratamento médico. Foucault faz uma investigação sobre como a loucura foi tratada pela humanidade baseando-se na antiguidade. Ele acaba concluindo que o homem é uma invenção recente junto com a razão, neste sentido, entender a psicose é também buscar entender quais os padrões dominantes e quais as reações do grupo social à tais condutas estranhas e aos seus agentes.
Religião
No Japão em uma área pouco religiosa, aproximadamente de 7 à 11% dos delírios tinham conteúdo religioso, geralmente associado com perseguição e culpa. Já nos Estados Unidos esse índice foi de 25% e 40% sendo comum também em transtorno bipolar. Na Europa a prevalência foi de 21%, sendo de 24% na Inglaterra. Na Índia, dos 31 visitantes de um templo conhecido como tendo poderes curativos sobre doenças mentais, 23 foram identificados com esquizofrenia paranóide e 6 com transtorno delirante. No Brasil os índices estão entre 15% e 33%. Os delírios religiosos costumavam ser mais incapacitantes, mais frequentes, mais graves, mais bizarros e necessitavam de mais medicamentos.[18]
Pacientes que relataram estar curados através de religião tiveram maior frequência de recaída que os outros pacientes. Pacientes que passaram por exorcismo ou feitiçaria retornaram com quatro vezes mais frequência.[19]
Pierre (2001) defende que, para que as crenças ou as experiências religiosas sejam patológicas, elas precisam causar prejuízos significativos a própria pessoa ou a outros. Se o desempenho social ou funcional não for prejudicado, então a crença ou experiência religiosa não é considerada patológica. É possível até que a religião ajude como mecanismo de enfrentamento focalizado na emoção, ou seja, ajudando a lidar com os fatores emocionais de um evento estressante.[20]
Referências
- ↑ Kelly, Evelyn B. (2001). Coping with schizophrenia 1st ed. New York: Rosen Pub. p. 25. ISBN 9780823928538
- ↑ Maio, Dr Vincent Di; Franscell, Ron (2016). Morgue: A Life in Death (em inglês). [S.l.]: St. Martin's Press. p. 236. ISBN 9781466875067
- ↑ Bogousslavsky, Julien; Boller, François (2005). Neurological Disorders in Famous Artists (em inglês). [S.l.]: Karger Medical and Scientific Publishers. p. 125. ISBN 9783805579148
- ↑ a b c d e f g h i j k l «RAISE Questions and Answers». NIMH (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2018
- ↑ a b c d e «Psychosis». NHS. 23 de dezembro de 2016. Consultado em 24 de janeiro de 2018
- ↑ «Psychosis Symptoms». NHS. Consultado em 24 de janeiro de 2018
- ↑ «Psychosis Causes». NHS. Consultado em 24 de janeiro de 2018
- ↑ Griswold, Kim S.; Del Regno, Paula A.; Berger, Roseanne C. (15 de junho de 2015). «Recognition and Differential Diagnosis of Psychosis in Primary Care». American Family Physician. 91 (12): 856–863. ISSN 1532-0650. PMID 26131945
- ↑ Cardinal, Rudolf N.; Bullmore, Edward T. (2011). The Diagnosis of Psychosis (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. p. 279. ISBN 9781139497909
- ↑ Foster, Norman L. (2011). The American Psychiatric Publishing Textbook of Geriatric Neuropsychiatry (em inglês). [S.l.]: American Psychiatric Pub. p. 523. ISBN 9781585629527
- ↑ Leucht, S.; D. Arbter; R.R. Engel; W. Kissling; J.M. Davis (abril de 2009). «How effective are second-generation antipsychotic drugs? A meta-analysis of placebo-controlled trials» (PDF). Molecular Psychiatry. 14 (4): 429–447. PMID 18180760. doi:10.1038/sj.mp.4002136. Consultado em 24 de março de 2013
- ↑ Rattehalli, R.D.; Jayaram, M.B.; Smith, M. (5 de abril de 2010). «Risperidone Versus Placebo for Schizophrenia». Schizophrenia Bulletin. 36 (3): 448–449. PMC 2879694. PMID 20368309. doi:10.1093/schbul/sbq030
- ↑ Gibbs, Ronald S. (2008). Danforth's Obstetrics and Gynecology (em inglês). [S.l.]: Lippincott Williams & Wilkins. p. 508. ISBN 9780781769372
- ↑ Giddens, Jean Foret (2015). Concepts for Nursing Practice - E-Book (em inglês). [S.l.]: Elsevier Health Sciences. p. 348. ISBN 9780323389464
- ↑ World Health Organization, The ICD-10 Classification of Mental and Behavioural Disorders: Clinical descriptions and diagnostic guidelines (CDDG), 1992.
- ↑ Freud, S. (1911). Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides). Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XII) (1996) Rio de Janeiro: Imago.
- ↑ Lacan, J. (1998). De uma questão preliminar a todo o tratamento da psicose. In Escritos. pp. 537-590. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
- ↑ KOENIG, Harold G.. Religião, espiritualidade e transtornos psicóticos. Rev. psiquiatr. clín. [online]. 2007, vol.34, suppl.1 [cited 2010-09-13], pp. 95-104. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000700013&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0101-6083. doi: 10.1590/S0101-60832007000700013.
- ↑ Salib, E.; Youakim, S. - Spiritual healing in elderly psychiatric patients: a case control study in an Egyptian psychiatric hospital. Aging & Mental Health 5(4): 366-370, 2001.
- ↑ Pierre, J.M. - Faith or delusion: at the crossroads of religion and psychosis. Journal of Psychiatric Practice 7(3):163-172, 2001.